Características do Círio de Nazaré: curiosidades da festa em Belém

Quando fui a Belém do Pará participar do Círio de Nazaré eu tinha uma vaga noção do que iria encontrar. Na verdade, eu achava que sabia, mas, chegando lá, descobri inúmeras características do Círio de Nazaré que eu desconhecia.

Eu tinha a mesma noção simplista de muitas pessoas de que o Círio de Nazaré se tratava apenas de uma única procissão, aquela na qual milhares de pessoas se comprimem ao extremo tentando segurar a corda que puxa o carro da imagem da Santa.

Bem, sim, isso faz parte da festa, mas não explica o que é o Círio de Nazaré. O círio de Nazaré trata-se de uma quinzena de comemorações e festividades, nas quais se incluem mais de uma dezena de procissões e romarias.

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símbolos do Círio de Nazaré
O maior símbolo do Círio de Nazaré é, sem dúvida, a própria imagem. Esta é a peregrina saindo da frente da Basílica para iniciar as romarias.

Eu já escrevi um post contando o que é e como é o Círio de Nazaré, onde falo um pouco de cada um desses acontecimento e procissões.

Agora, vamos conversar um pouco sobre algumas características do Círio de Nazaré, um pouco de sua história e dos símbolos do Círio de Nazaré.

Características do Círio de Nazaré

características do cirio de nazaré

O nascimento do Círio

A devoção a Nossa Senhora de Nazaré em Belém ganhou força quando Plácido, um caboclo que estava procurando sua caça, encontrou a estátua de Nossa Senhora de Nazaré, desgastada, às margens do igarapé Murutucu – local onde hoje se encontra a Basílica de Nazaré.

Isso foi em 1700. Provavelmente uma réplica da estátua que existe em Portugal, feita em madeira e com cerca de 28 cm de altura. Ele a levou para casa, limpou e a colocou em um pequeno altar improvisado dentro de casa.

Conta a lenda que, no dia seguinte, a imagem inexplicavelmente estava no mesmo lugar onde tinha sido encontrada. Ele a pegou, levou pra casa novamente e, de novo, ela voltou ao lugar do achado. Isso ocorreu algumas vezes até que Plácido, interpretando o fato como um milagre, resolveu deixá-la no local onde a achou e, para isso, construiu uma pequena capela no local.

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Nossa Senhora de NAzaré achada no igarapé
Maquete que mostra a época em que Nossa Senhora de Nazaré foi achada no igarapé por Plácido

Curiosidade: foi interessante que vimos a maquete acima, muito bem feita, no Museu Memória de Nazaré. Logo depois, estávamos eu e o nosso guia Diogo [Fala Diogo!] na Basílica de Nazaré quando um senhor parou para falar conosco, do nada. Ele perguntou se já tínhamos visto a maquete que tinha lá no Memória e, quando dissemos que sim, ele contou todo orgulhoso que tinha sido ele quem fez… conversamos um pouco e depois ele foi embora. O nome dele é Ney Bastos e, pra quem quiser, este é o Facebook dele.

casa de Plácido
Pedi pra tirar uma selfie com ele, ele até se assustou….

A capela começou a receber visitas dos habitantes da região, atraídos pela notícia do achado da santa e do milagre.

Com a movimentação, D. Francisco Maurício de Souza Coutinho, governador da Capitania à época, ordenou a transferência da santa para a capela do Palácio da Cidade. A imagem, entretanto, mais uma vez retornou ao seu lugar, agora dentro da pequena ermida.

A devoção à Nossa Senhora de Nazaré se fortaleceu ainda mais. No lugar da pequena ermida, ergueu-se uma capela que, com as reformas, tornou-se a Basília de Nazaré como a conhecemos hoje.

Em 1774, a imagem foi enviada para Portugal para ser restaurada, demorando alguns meses para seu retorno. Em sua volta, em outubro de 1774, a imagem foi transportada desde o porto, onde chegou, até a Basílica em romaria pelo povo, acompanhada também do governador, do Bispo e diversas autoridades.

basílica de nossa senhora de nazaré
A imagem original, a do achado, na Basílica de Nazaré

Esse é considerado o primeiro Círio de Nazaré, oficialmente. A partir de então, o Círio de Nazaré é realizado todos os anos.

E quando é o Círio de Nazaré? Sempre no segundo domingo de outubro!

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Tradição vinda de Portugal

A devoção à Nossa Senhora de Nazaré certamente foi absorvida aqui dos nossos antepassados portugueses. Provavelmente, Plácido achou alguma imagem perdida pelos portugueses em suas andanças pelas matas onde hoje é Belém.

Em Portugal, Nazaré é envolta em uma lenda famosa há séculos, o que a fez tornar-se um símbolo de fé há muitas gerações.

Conta-se que, no século XII, o cavaleiro D. Fuas Roupinho (como era conhecido o nobre português Fernão Gonçalves Churrichão) estava caçando montado em seu cavalo. Ele perseguia um cervo em meio a um nevoeiro, quando se viu na beira do precipício, ao lado de uma pequena gruta onde se encontrava uma imagem da Nossa Senhora com o Menino Jesus.

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A queda certamente o mataria, mas ele gritou rogando proteção à Virgem “Senhora, Valei-me!”, e o cavalo parou bruscamente bem na beira do abismo, fincando com força as patas. Conta-se que a marca da pata do cavalo ainda se pode ver na pedra.

Ali mesmo D. Fuas mandou erguer, sobre a pequena gruta, em 1182, a Ermida da Memória (ou Capela de Nossa Senhora de Nazaré) em agradecimento à Virgem. Essa história eu já contei, inclusive, quando escrevi o que fazer em Nazaré, Portugal.

Capela de Nazaré em Portugal
Capela que D. Fuas mandou erigir em agradecimento à Nazaré, em Nazaré, Portugal

Quantas pessoas participam do Círio de Nazaré?

Não há um consenso sobre qual é a maior manifestação católica do Brasil, se o Círio de Nazaré ou se o dia de Nossa Senhora Aparecida.

Segundo consegui apurar, em Nossa Senhora Aparecida há mais pessoas em geral, mas em uma única procissão, a do Círio de Nazaré no segundo domingo de outubro é maior.

Participam da romaria, entre os fiéis que acompanham a Santa e a corda e os fiéis que assistem, mais de dois milhões de pessoas.

Em 2004 o Círio de Nazaré foi reconhecido pelo Iphan como Patrimônio Cultural Imaterial e, em 2013, foi declarado pela UNESCO Patrimônio Cultural da Humanidade.

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Procissão do Círio de Nazaré
A rua onde acontece a romaria principal, absolutamente lotada de fiéis durante o Círio de Nazaré

A Casa de Plácido

Durante o Círio, existe uma base de apoio aos peregrinos chamada de “Casa de Plácido”, que fica ao lado da Praça Santuário. Lá, existem médicos(as), enfermeiros(as), massagistas, são oferecidas refeições, água, suco e toda uma gama de apoio para qualquer pessoa que esteja participando das diversas manifestações durante a Quadra Nazarena.

Círio de Nazaré casa de Plácido
Enfermeiros cuidando de fiéis na Casa de Plácido. Ali ao centro eles estavam tratando do pé de um peregrino que andou 24 horas direto para chegar à festa.

Nós vimos pessoas com os pés machucados de tanto andar, pessoas se alimentando e pessoas entrando de emergência – aquelas que, durante as manifestações, passam mal, desmaiam ou têm outros tipos de problemas. Há equipes que circulam o tempo inteiro entre as multidões para fazer esse apoio e resgate.

Ajuda a fiel no Círio de Nazaré
Sempre tem alguém passando mal, o resgate abre caminho na multidão e leva para a Casa de Plácido.

A Berlinda

Quem for a Belém nesta época, vai ouvir muito esta palavra: Berlinda. A berlinda é o compartimento fechado, com paredes de vidro, onde a imagem peregrina é levada durante as procissões.

Nossa Senhora de Nazaré no Círio em Belém

História da corda do Círio de Nazaré

A corda é uma dos maiores Símbolos do Círio de Nazaré. É ela que puxa a berlinda. Há muitas décadas, a tradição da corda atrai milhares de devotos que querem “segurar a corda” e ajudar a puxar a berlinda. É exatamente isso que gera aquelas imagens famosas de pessoas “amassadas” umas às outras: são todos devotos querendo acompanhar a procissão segurando a corda.

A tradição da corda surgiu no ano de 1855, quando, na véspera do Círio, a Baía transbordou e transformou as ruas por onde passaria a procissão – de barro – em verdadeiros lamaçais. A berlinda ainda era puxada por bois, mas o carro da berlinda atolou e os bois não conseguiram seguir caminho.

Alguém teve a ideia de amarrar uma corda em volta da Berlinda e puxarem à mão. Um comerciante local doou a corda e assim fizeram, a berlinda saiu do atoleiro e conseguiu chegar ao destino. Nos anos seguintes, os romeiros sempre utilizavam a corda para passar pelos possíveis obstáculos pelo caminho. Em 1868, finalmente, a corda foi oficializada pela Diretoria do Círio.

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características do Círio de Nazaré
Não parece, mas a corda está ali no meio…

Hoje em dia, ainda segue a tradição de um comerciante local doar a corda, mas ela é produzida em outro estado, cada ano em um local diferente. Ela é toda de sisal.

Hoje em dia não existe somente a corda a puxar a berlinda. Desde 2005, em toda a extensão da corda (cerca de 400 metros) há diversas Estações, que são armações de metal com várias barras paralelas e estas estações são unidas umas às outras pela corda.

A implantação destas estações se deu para agilizar a condução da procissão, que demorava demais somente com a corda. Ela chegava a durar 5 a 7 horas, mas teve um ano que chegou a quase 10 horas! Com as estações ‘abrindo o caminho’, a procissão hoje demora menos tempo (cerca de 4 horas).

corda do círio de nazaré
Uma das estações depois de ter chegado ao seu destino, suspensa pelos romeiros

Ao chegar no seu destino, as estações são uma a uma desatreladas da corda. Neste momento, apesar de tentativas de que isso não aconteça, os fiéis começam a cortar a corda, disputando cada pedacinho dela em grupos onde cada um quer levar um pedaço, nem que seja um único fio de sisal.

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Por que de dia?

A romaria do Círio era feita no final da tarde, entrando pela noite. Aliás, a própria palavra Círio significa uma grande vela, geralmente utilizada em igrejas e que eram utilizadas nas primeiras romarias.

No ano de 1853, entretanto, a procissão foi surpreendida por uma chuva torrencial, daquelas que costuma acontecer, aliás, com frequência na região de Belém (costuma-se dizer que, ao marcar um compromisso, tem-se o costume de perguntar “antes ou depois da chuva?”).

Depois deste episódio, a procissão passou a ser de manhã, na busca de fugir das possíveis chuvas ao final da tarde.

Mas a Trasladação ocorre no sábado à noite, no dia anterior à procissão principal do Círio de Nazaré.

círio de Nazaré Características da festa
Trasladação de Nossa Senhora de Nazaré

As promessas e agradecimentos

Por fim, uma das principais características do Círio de Nazaré que eu percebi advém da própria fé das pessoas, fé inabalável na Nossa Senhora de Nazaré.

Dezenas de pessoas passam pela sua frente carregando os objetos de suas promessas, sejam para fazer a promessa, seja pagando a promessa já feita e a graça atendida.

Curiosidades do Círio de Nazaré em Belém
Fiéis pagando suas promessas ou fazendo seus pedidos à Santa durante o Círio de Nazaré

São casas, partes do corpo em cera, bonecas representando o neném tão desejado, livros e cadernos sobre a cabeça agradecendo ou pedindo ajuda na realização profissional.

E, além de tudo, as pessoas que sacrificam seus corpos agradecendo as bênçãos em longas travessias de joelho.

Pagar promessa Nossa Senhora de Nazaré

Sinceramente, é muito emocionante. Acho que mesmo quem não é católico ou não é religioso deveria participar ao menos uma vez na vida. Uma das características do Círio de Nazaré é unir TODA a população em torno de uma festa sem brigas, sem acidentes, sem medo.

Ver a fé e a devoção das pessoas, de forma tão fervorosa e verdadeira, é emocionante e nos faz pensar na vida.

São tantos pedidos, quanto deles são atendidos? Espero, sinceramente, que todos sejam.

Boa viagem!

O Blog Turista Profissional viajou a convite da Secretaria de Estado de Turismo – SETUR – do Governo do Estado do Pará.

Estiveram comigo nesta aventura os blogs Aventure-seUm Viajante e Melhores Destinos

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